Na Sala de Reuniões 2 do Reitorado foi celebrado o Dia Mundial da Língua Portuguesa. O evento contou com a presença da Vice-Reitora, Professora Doutora Reneta Bozhankova, da Decana da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas, Professora Doutora Gergana Petkova, de Sua Excelência a Embaixadora de Portugal, Ana Maria Ribeiro da Silva, de Sua Excelência o Embaixador do Brasil, Paulo Roberto Tarisse da Fontoura, da Chefe do Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos, Professora Doutora Yana Andreeva, bem como de estudantes e professores do curso de Filologia Portuguesa da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas.
Em nome do Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas e da Cátedra de Investigação José Saramago, criada na faculdade ao abrigo de um acordo de cooperação entre o Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, e a Universidade de Sófia, a Professora Doutora Yana Andreeva deu as boas-vindas aos convidados presentes na celebração do Dia Mundial da Língua Portuguesa.

Este dia é uma celebração particularmente importante também para os presentes aqui, os atuais e futuros lusitanistas búlgaros, porque hoje professores, investigadores, doutorandos e estudantes nos juntamos à comunidade lusófona mundial e celebramos a língua de Camões, de Vieira, de Eça de Queirós e de Machado de Assis, de Fernando Pessoa e de Guimarães Rosa, uma língua à qual nos dedicamos no nosso trabalho diário aqui, no curso de Filologia Portuguesa da Universidade de Sófia, destacou a professora Andreeva.

A Professora Doutora Reneta Bozhankova dirigiu uma saudação e destacou que a reitoria da universidade valoriza muito a atividade do departamento, tanto como expressão académica quanto como presença internacional, incluindo os livros e coletâneas publicadas, as conferências e exposições organizadas. Segundo ela, essas iniciativas consolidam a comunidade lusófona no país, representam a Alma Mater muito além das suas altas paredes e delineiam um futuro promissor para a investigação nesta área.

A Professora Bozhankova dirigiu uma saudação especial à Professora Andreeva, à sua equipa e aos colegas do departamento, assim como ao apoio recebido da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas. Expressou também um especial agradecimento aos embaixadores presentes, que sempre têm apoiado os esforços académicos da universidade.
A Professora Doutora Gergana Petkova destacou que, num dia de celebração como este, todos tomamos consciência do que significa aprender línguas estrangeiras e conhecer culturas distantes, próximas e diferentes. „Vivemos num século extremamente dinâmico. Um século em que a comunicação intercultural, de forma inesperada, começou a enfrentar cada vez mais dificuldades. Isso dá sentido ao nosso trabalho. Porque todos nós, na Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas, professores e estudantes, trabalhamos em prol da comunicação cultural. Somos nós que construímos pontes. Ajudamos as diferentes culturas a aproximarem-se, a descobrirem semelhanças, a encontrarem diferenças, mas diferenças interessantes, umas nas outras”,afirmou a Professora Petkova.

Ela expressou a sua profunda gratidão a toda a equipa do Departamento de Estudos Lusófonos pelo trabalho que realiza, assim como pelo empenho dos estudantes. “Sabemos que aprender uma língua estrangeira exige muita disciplina, muita dedicação e muito amor. Mas uma língua é uma enorme riqueza, que ajuda cada um de nós a abrir inúmeras portas”,acrescentou ainda a decana da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas. Ela sublinhou que a língua portuguesa abre portas para países de diferentes continentes, para a literatura, para a cultura e para as relações humanas.
A Professora Petkova felicitou todos pela celebração e desejou saúde, muita força, criatividade e perseverança para realizarem as suas ideias. “O mundo de hoje precisa de nós, filólogos e humanistas", destacou ainda. A decana expressou também a sua gratidão às embaixadas de Portugal e do Brasil pelo seu constante apoio.

Sua Excelência a senhora embaixadora Ana Maria Ribeiro da Silva, destacou na sua saudação que vem sempre com enorme prazer à Universidade de Sófia para celebrarmos juntos o Dia da Língua Portuguesa, mesmo que este ano não tenhamos tido a oportunidade de o comemorar no dia 5 de maio, data instituída em 2010 pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

„Desde há seis anos, mais precisamente desde 2019, após uma decisão tomada pela Conferência Geral da UNESCO, passámos a celebrar nesta data o Dia Mundial da Língua Portuguesa. Com certeza todos concordamos que este justo reconhecimento de relevância global para a língua portuguesa é, sem dúvida, mais significativo do que o simples dia escolhido para a sua celebração”, afirmou a Embaixadora Ribeiro da Silva. Ela acrescentou que todos podemos concordar que nenhuma língua é mais importante do que outra apenas por ter um dia mundial dedicado a ela ou por ser língua de trabalho em várias organizações internacionais, como é o caso do português, utilizado em dezenas de instituições.“Devemos, no entanto, reconhecer que, embora o português tenha nascido nas margens do oceano Atlântico, em Portugal, conseguiu alcançar os oceanos Índico e Pacífico, e hoje é a língua pela qual cerca de 260 milhões de pessoas se expressam e comunicam em quatro continentes, número que deverá atingir os 500 milhões até ao final deste século”, afirmou a embaixadora..

No seu discurso, Sua Excelência a senhora embaixadora Ana Maria Ribeiro da Silva destacou que a língua portuguesa continua a desenvolver-se até aos dias de hoje, incorporando diferentes falares, novas palavras e expressões, sem deixar de ser a mesma língua utilizada por uma imensa diversidade de vozes. Segundo a embaixadora, uma língua de matriz global é um instrumento insubstituível de compreensão e esperança, pois frequentemente serve de refúgio para os mais frágeis, os mais vulneráveis, que acreditam que as suas vozes e ideias podem ser ouvidas e devidamente interpretadas.
A Embaixadora de Portugal na Bulgária acrescentou ainda que a língua é uma poderosa ferramenta cultural, capaz de ultrapassar a incompreensão e o desconhecimento do Outro, de combater a intolerância e os preconceitos. “Quando as línguas conseguem unir pessoas com tradições e ideias diferentes, a diversidade e o multiculturalismo estabelecem os seus alicerces sólidos. Na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa predominam precisamente a diversidade, o multiculturalismo e o multilinguismo (tendo em conta que, em alguns países, o português coexiste com línguas locais), e são esses valores que enriquecem as sociedades e a própria palavra”, afirmou ainda a embaixadora Ribeiro da Silva. Ela concluiu dizendo que, além de tudo isso, os currículos académicos e profissionais se tornam mais ricos e a integração se aprofunda quando se procura aprender a língua e a cultura daqueles com quem se vive e trabalha, mesmo numa época marcada pela mobilidade, em que os nossos contactos podem durar apenas um curto espaço de tempo.

Sua Excelência a senhora embaixadora Ana Maria Ribeiro da Silva, mencionou brevemente algumas das grandes personalidades associadas à língua portuguesa, representantes de diferentes países: Miguel Torga, poeta e escritor português; José Craveirinha e Mia Couto, poetas, escritores e jornalistas moçambicanos; Pepetela, escritor e dramaturgo angolano; Arménio Vieira e Germano Almeida, poetas e jornalistas cabo-verdianos; os grandes prosadores brasileiros Jorge Amado e Lygia Fagundes Telles; as inesquecíveis escritoras portuguesas Sophia de Mello Breyner, Maria Velho da Costa e Agustina Bessa-Luís, todas elas justamente distinguidas com o prestigiado PrémioCamões..
A embaixadora concluiu a sua intervenção com um excerto do também ilustre e premiado Vergílio Ferreira, que descreve a importância da língua de Camões da seguinte forma:
"Com a língua portuguesa, ao longo de oito séculos, criámos uma literatura bela, deixando nela a memória do que foi essencial para a modernidade europeia. O orgulho não pertence apenas aos grandes Estados, porque não se relaciona com a dimensão do território, mas com a dimensão da alma que o preencheu.
A alma do meu país foi tão grande quanto o mundo inteiro.
A língua é o lugar de onde se vê o mundo e onde se traçam os limites do nosso pensar e do nosso sentir.
Da minha língua vê-se o mar.
Da minha língua ouve-se o seu rumor, como se ouve de outras línguas o rumor da floresta ou o silêncio do deserto.
Por isso, o murmúrio do mar foi o da nossa inquietação.
Por isso, o chamado que veio dele foi o que veio de nós."
Por fim, a embaixadora Ana Maria Ribeiro da Silva agradeceu o dedicado trabalho da leitora do Instituto Camões em Sófia, a Dra. Sofia Saraiva, bem como o empenho dos docentes de português nas universidades, liceus e escolas de línguas da Bulgária, onde o idioma é ensinado. Expressou ainda a sua gratidão pela dedicação dos estudantes que o aprendem, alguns dos quais desenvolvem projetos de investigação e escolhem continuar a sua trajetória profissional na área dos estudos lusófonos.

Sua Excelência o senhor embaixador Paulo Roberto Tarisse da Fontoura afirmou na sua saudação que, como representante do Brasil e do povo brasileiro na Bulgária, está muito feliz em destacar a dedicação da Universidade de Sófia na difusão da língua portuguesa, que hoje é a quarta língua mais falada no mundo, mais de 270 milhões de pessoas em cinco continentes utilizam-na. Ele ressaltou a riqueza e diversidade da língua e lembrou que o português é língua oficial e de trabalho em várias organizações internacionais e regionais, como a União Europeia, a União Africana, a Organização dos Estados Americanos e o Pacto da Amazónia, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, o Mercosul e o Fórum de Cooperação de Macau, na Ásia.
„“No contexto das atividades do Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos, agradeço do coração à Universidade pelos esforços na promoção das pesquisas sobre a cultura brasileira”, disse o embaixador Paulo Roberto Tarisse da Fontoura, destacando que acredita que esses esforços correspondem ao crescente interesse dos búlgaros pela literatura e cultura brasileiras, evidenciado por mais de cem obras de autores brasileiros traduzidas para o búlgaro, dos quais destacou Machado de Assis, Jorge Amado, Clarice Lispector e Carlos Drummond de Andrade. Ele observou que também há grande interesse por outras expressões culturais do seu país. como a música e a culinária brasileiras.

“Podem contar com o nosso apoio às atividades do departamento. Em termos de número, a diáspora búlgara no Brasil é composta por cerca de 60 mil pessoas, entre as quais a ex-presidente do país, Dilma Rousseff; enquanto a comunidade brasileira na Bulgária conta com cerca de 500 pessoas. Assim, é com grande alegria que me junto à embaixadora de Portugal e aos demais representantes da Universidade para celebrar hoje, em Sófia, o Dia da Língua Portuguesa, um valioso património cultural que compartilhamos com grande orgulho.”.
O embaixador Paulo Roberto Tarisse da Fontoura desejou aos estudantes presentes muito sucesso na conclusão dos seus estudos e assegurou-lhes que, caso optem por se dedicar aos estudos brasileiros, a embaixada estará sempre de portas abertas para recebê-los.

No âmbito das celebrações do Dia Mundial da Língua Portuguesa, foi apresentada a coletânea temática Novas Investigações sobre a Língua Portuguesa, Literaturas e Culturas Lusófonas na Europa Central e de Leste. A Professora Yana Andreeva destacou que as celebrações académicas são uma oportunidade para fazer um balanço dos esforços da comunidade académica na promoção da língua portuguesa e no estudo das literaturas e culturas que nela se expressam. Ela apresentou a edição da Editora Universitária Sv. Kliment Ohridski como resultado de um projeto científico do Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos e da Cátedra de Investigação José Saramago da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas, realizado com o apoio do Fundo de Investigação Científica da Universidade de Sófia e do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua. A publicação é também fruto dos encontros e debates académicos realizados na Universidade de Sófia no âmbito do Primeiro Congresso da Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas para a Europa Central e de Leste, realizado em novembro de 2022.
A coletânea inclui estudos e artigos selecionados sobre temas atuais da literatura portuguesa e brasileira, da linguística portuguesa e comparada, da metodologia do ensino do português como língua estrangeira e da tradutologia. Os autores da coletânea são representantes de universidades da Europa Central e de Leste e de Portugal e do Brasil, com as quais os especialistas em estudos portugueses da Universidade de Sófia mantêm uma parceria bem-sucedida de longa data no âmbito de acordos interinstitucionais de cooperação académica nas áreas dos estudos portugueses e lusófonos.

Ao expressar a sua convicção quanto à utilidade da coletânea para o intercâmbio científico internacional, a Professora Andreeva desejou sucesso à sua apresentação internacional, que está prevista para acontecer no âmbito do Segundo Congresso de Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas para a Europa Central e de Leste, em novembro deste ano, na Universidade de Belgrado.
No âmbito das celebrações do Dia Mundial da Língua Portuguesa, foram também anunciados os resultados do Concurso Estudantil de Tradução do Português.
A Professora Associada Ilyana Chalakova apresentou, em nome do júri, a edição de 2025 do concurso anual de tradução, dirigido aos estudantes de português da Universidade de Sófia Sv. Kliment Ohridski.
Em homenagem ao centenário do nascimento do grande escritor português José Cardoso Pires, o desafio proposto aos estudantes este ano foi a tradução para o búlgaro de O Conto dos Chineses, um conto simultaneamente irónico e sério, que ilustra de forma eloquente a mestria de Cardoso Pires na criação de uma linguagem literária de excelência em português.
As traduções submetidas a concurso foram avaliadas de forma anónima com base em critérios como a interpretação lexical e gramatical do texto original, o grau de equivalência alcançado na língua objetivo, neste caso o búlgaro, bem como a procura e escolha de soluções de tradução adequadas e criativas que melhor transmitissem as ideias e o estilo do autor.

A Dra. Ilyana Chalakova destacou que, entre todas as traduções analisadas, duas se distinguiram de forma especial, uma pelo seu delicado cuidado com o conteúdo e o estilo do conto de José Cardoso Pires, e a outra pelo som original e expressivo do texto traduzido para o búlgaro. A primeira foi distinguida com o Grande Prémio da edição deste ano do concurso, enquanto a segunda recebeu merecidamente o Prémio Especial de Tradução Original.

A Vice-Reitora da Universidade de Sófia, Professora Bozhankova, e os embaixadores de Portugal e do Brasil, entregaram os diplomas e certificados aos participantes distinguidos no concurso.

O Primeiro Prémio foi atribuído à tradução apresentada pelas estudantes do quarto ano do curso de Filologia Portuguesa, Nina Tsankova e Ivanina Yancheva.
O Prémio de Tradução Original foi concedido a Boyka Bozharovska, estudante do segundo ano do mesmo curso.
Pelo seu excelente desempenho, Miglena Georgieva, do quarto ano, e Viktor Todorov, do terceiro ano, foram também felicitados.
A Dra. Sofia Saraiva, leitora de língua e cultura portuguesa na
Universidade de Sófia Sv. Kliment Ohridski e diretora do Centro de Língua Portuguesa Camões – Sófia adjunto à Embaixada de Portugal, apresentou ainda mais uma conquista dos estudantes do curso de Filologia Portuguesa – a exposição intitulada O Mundo da Língua Portuguesa, patente no átrio central da Universidade.

A Dra. Sofia Saraiva assinalou que os estudantes foram responsáveis pela preparação dos materiais da exposição, tendo selecionado e investigado os temas e as fontes, bem como realizado debates aprofundados sobre as personalidades do mundo lusófono que deveriam ser representadas na mostra. Os textos originais e as traduções para o búlgaro foram revistos por professores de português do ensino secundário, antigos alunos do curso que atualmente integram a rede de ensino da língua portuguesa do Instituto Camões na Bulgária.

O resultado deste projeto estudantil é realmente maravilhoso e inspirador, resumiu Sofia Saraiva, expressando confiança de que a exposição visitará, nos próximos meses, várias escolas secundárias em Sófia e no resto do país.


