Serão dedicado à Literatura Brasileira decorreu na Universidade de Sófia

No espaço «O Ovo» da Universidade de Sófia Sv. Kliment Ohridski teve lugar um Serão dedicado à Literatura Brasileira  com o lançamento dos romances «A Filha dos Rios» e «Onde Estão as Flores» de Ilko Minev, o livro de poesia «Ciclo Brasileiro» de Elisaveta Bagryana e «Ponto de Fuga» de Lobo Pasolini em edições bilingues, em búlgaro e em português.  

O Serão de Liretatura Brasileira é um evento organizado em conjunto pela Licenciatura em Filologia Portuguesa do Departamento de Estudos Ibero-Americanos da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas e pela Embaixada do Brasil em Sófia. Faz parte do programa de acontecimentos em homenagem ao 130º aniversário da Universidade de Sófia Sv. Kliment Ohridski e está a decorrer no âmbito da Semana de Cinema e Cultura Brasileiros.

À noite literária brasileira assistiram a Prof.ª Dr.ª Madeleine Danova, Presidente da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas, S. Ex.ª Ana Maria Sampaio Fernandes, Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República Federativa do Brasil na Bulgária, como também docentes e alunos da Faculdade.

 

Nas suas palavras de abertura do serão literário, a Prof.ª Dr.ª Madeleine Danova, Presidente da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas, manifestou o seu contentamento de o evento cultural ter coincidido com a véspera do Dia Nacional dos Promotores da Ilustração, dando um bom impulso de inauguração para os Dias Clementinos tradicionalmente comemorados na Universidade de Sófia.

A Prof.ª Dr.ª Danova afirmou que este serão era a prova da afinidade entre as culturas quando não estamos a olhar para elas no mapa, mas a pensar nelas na dimensão do sentido espiritual que emana sempre da poesia, da prosa, das obras ficcionais,  expressando a sua esperança de que todos consigam mergulhar neste mundo em que se dá o encontro da cultura brasileira com a cultura búlgara.

 

A Sr.ª Ana Maria Sampaio Fernandes, Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República Federativa do Brasil cumprimentou o público do evento, agradecendo à Prof.ª Dr.ª  Yana Andreeva, Vice-presidente da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas, o seu contributo para a organização deste Serão da Literatura Brasileira junto com a Dr.ª Nara Vasconcelos, Representante do ZENON Instituto Cultural e encarregue da promoção da Semana de Cinema e Cultura Brasileiros.

  1. Ex.ª Ana Maria Sampaio Fernandes cumprimentou e apresentou à audiência o escritor brasileiro Lobo Pasolini que a seguir fez o lançamento do seu livro intitulado «Ponto de Fuga».

A coletânea poética «Ciclo Brasileiro» da poetisa búlgara Elisaveta Bagryana foi apresentada pelo Prof. Rumen Stoyanov.

O Serão de Literatura Brasileira prosseguiu com o lançamento do romance de Ilko Minev intitulado «A Filha dos Rios» que foi apresentado por S. Exª a Sr.ª Embaixadora.

A noite literária dedicada ao Brasil deu oportunidade ao público búlgaro de ouvir os versos de Elisaveta Bagryana, recitados em língua búlgara pela própria voz da poetisa gravada, preservada e guardada para a posteridade nos arquivos do Fundo de Ouro da Rádio Nacional Búlgara, como também em língua portuguesa na interpretação artística da Dr.ª  Nara Vasconcelos.

O público teve igualmente o prazer de se deleitar com a música brasileira na interpretação de Diogo Ramo.

A nossa Alma Mater presenciou um ciclo de lições dedicadas a Cabo Verde

A Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas da Universidade de Sófia Sv. Kliment Ohridski recebeu a visita da Prof.ª Dr.ª Catarina Cardoso, docente da Universidade Jean Piaget da República de Cabo Verde. Ela proferiu um ciclo de conferências intitulado «Cabo Verde – passado, presente e futuro» no âmbito da mobilidade docente do Programa Erasmus+.

As aulas abertas foram presenciadas por estudantes e professores da Licenciatura em Filologia Portuguesa que tiveram a oportunidade de chegar a conhecer a geografia, a história, a economia, a cultura e a variação linguística de Cabo Verde para além do posicionamento deste país atlântico no contexto internacional e os seus laços culturais com Portugal e com o Brasil. As apresentações continham sessões de documentários sobre diferentes facetas do desenvolvimento do arquipélado de Cabo Verde.

 

Ao longo da sua visita à Universidade de Sófia, a Prof.ª Dr.ª Catarina Cardoso teve um encontro com a Prof.ª Dr.ª Madeleine Danova, Presidente da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas em que discutiram as possibilidades de colaboração entre a Universidade de Sófia e a Universidade Jean Piaget no âmbito da Licenciatura em Estudos Africanos, instituída recentemente, e o seu Módulo de África Lusófona.

«Dias da Lusofonia» na Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas

Na Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas, decorreu o evento Dias da Lusofonia no âmbito da iniciativa Dias de Maio na Cultura organizada tradicionalmente no mês de maio na Universidade de Sófia Sv. Kliment Ohridski.

O ciclo de eventos intitulado Dias da Lusofonia foi iniciado pelo encontro dos docentes e estudantes da Licenciatura em Filologia Portuguesa com o escritor português David Machado cujo romance «Índice médio de felicidade», que venceu o Prémio Europeu da Literatura para 2015, foi traduzido para a língua búlgara.

A visita de David Machado fez-se possível graças ao apoio da representação do Instituto Camões, I. P., junto da Embaixada de Portugal em Sófia cujo convidado oficial é o escritor galardoado.

 

David Machado deu a conhecer ao público a história do seu percurso artístico e a sua participação ativa nas campanhas nacionais de incentivo à leitura entre os jovens. Embora se tenha licenciado em Economia, David Machado cedo optou pelo caminho da escrita e os seus livros infantojuvenis ocupam um lugar especial na série de numerosos títulos editados. Foi precisamente com o seu conto para crianças «A noite dos animais inventados» que o escritor venceu em 2005 o prestigiado Prémio Branquinho da Fonseca da Fundação Calouste Gulbenkian e o Semanário Expresso. A partir daquela altura dedicou-se a escrever histórias para crianças e adolescentes algumas das quais se chegaram a transformar em leitura favorita do jovem público português, nomeadamente, «Os quatro comandantes da cama voadora», «Um homem verde num buraco muito fundo», «A mala assombrada», «O tubarão na banheira» que no ano de 2010 ganhou o Prémio «Autor do Melhor Livro de Literatura Infantojuvenil» da Sociedade Portuguesa de Autores em parceria com a RTP.

 

Os romances de David Machado também gozam de uma receção entusiasmada por parte do público leitor tanto em Portugal, como no estrangeiro. Ele é autor dos romances «O Fabuloso Teatro do Gigante», «Deixem Falar as Pedras», «Debaixo da pele» e «Índice médio de felicidade» (que para além de ter vencido o Prémio da Literatura da União Europeia para o ano de 2015, recebeu o Prémio Salerno Libro d’Europa). As suas obras são editadas na Itália, na França, no Brasil e no Marrocos. Contos da sua autoria aparecem incluídos em antologias na Itália, Alemanha, Noruega, Grã-Bretanha, Islândia, Marrocos e Colômbia.

 

O escritor compartilhou com os estudantes da Licenciatura em Filologia Portuguesa as fontes do otimismo das suas personagens, a luta quotidiana com os desafios da vida com os que se confronta a gente jovem de hoje, a perseverança dos «jovens homens irritados» com que eles lutam pela defesa dos seus valores e do seu futuro.

 

O encontro com David Machado decorreu no meio de um interesse muito vivo por parte do público académico, dos convidados do evento Dias da Lusofonia na Alma Mater e dos média búlgaros.

No âmbito dos Dias da Lusofonia foi proferido um ciclo de conferências pelo ilustre lusitanista polaco o Prof. Dr. Jerzy Brzozowski, Diretor da Cátedra Vergílio Ferreira do Camões, I. P., na Faculdade de Línguas Românicas da Universidade Jaguieloniana em Cracóvia. A visita do Prof. Brzozowski realiza-se no âmbito do Acordo de cooperação bilateral entre as duas Universidades e a convite da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas da Universidade de Sófia Sv. Kliment Ohridski.

 

O Prof. Jerzy Brzozowski é docente universitário e investigador eminente na área da literatura comparada, da teoria da tradução, da história e cultura dos países lusófonos, da história contemporânea da América Latina, nomeadamente, história política, económica e social do Brasil. O ciclo de conferências proferido pelo Prof. Dr. Brzozowski refletiu os temas dos seus interesses científicos e trabalho de investigação, dedicando-se às imagens da brasilianidade na literatura francesa do século XIX. O foco das análises do eminente lusitanista polaco centraram-se nas figuras da mulher portuguesa oprimida e da mulher indígena de pele quase branca como encarnações do imaginário franco-brasileiro em diferentes períodos e correntes da estética ficcional do século ХІХ. O professor catedrático prestou atenção às representações do terror e do terrorífico na literatura das viagens e das narrativas ficcionais na França da mesma época.

 

Durante a sua visita na Universidade de Sófia, o Prof. Dr. Brzozowski teve um encontro de trabalho com a Prof.ª Dr.ª Madeleine Danova, Presidente da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas, ao longo do qual colocaram-se em relevo os resultados positivos da enérgica colaboração já estabelecida entre as entidades de estudos lusófonos de ambas as universidades. Foram igualmente discutidas as possibilidades de uma futura cooperação regional entre os lusitanistas das instituições académicas da Europa Central e de Leste sob a forma de iniciativas conjuntas de natureza científica e pedagógica.

 

Sua Ex.ª a Embaixadora da República Portuguesa em Sófia proferiu uma conferência com o tema: A política externa portuguesa – prioridades básicas e dimensões.

Sua Ex.ª Helena Coutinho, Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República Portuguesa em Sófia, fez uma visita à Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas da Universidade de Sófia a convite da Prof.ª Dr.ª Madeleine Danova, Presidente desta Faculdade, para dar uma aula aberta perante os alunos e professores da Faculdade.

Nos âmbito da sua visita, a Embaixadora Helena Coutinho teve um encontro com o Prof. Dr. Anastas Gerdzhikov, Magnífico Reitor da Universidade de Sófia Sv. Kliment Ohridski. Foi salientada a satisfação de ambas as partes pela colaboração entre a Universidade de Sófia e Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I. P., discutindo à continuação as perspetivas para o futuro desta colaboração e as possibilidades da instituição de uma Cátedra Camões na Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas da Universidade de Sófia.

A Embaixadora Helena Coutinho proferiu uma conferência intitulada A política externa portuguesa – prioridades básicas e dimensões. A aula aberta presenciou-se por estudantes e docentes do Programa de Mestrado em Relações Culturais e Geopolítica da União Europeia e da Licenciatura em Filologia Portuguesa da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas.

 

Na sua conferência, S. Ex.ª a Embaixadora Helena Coutinho começou por salientar que a política externa de Portugal é uma política de consequencialidade baseada nos princípios, forjados tanto pela situação geográfica e pelo percurso da história nacional, como pelos interesses estratégicos do país. As suas prioridades básicas contemplam a integração europeia, as relações transatlânticas, a cooperação com os países lusófonos, o fortalecimento dos laços entre as comunidades portuguesas no estrangeiro, a internacionalização da economia e aprofundamento do seu multilateralismo. S. Ex.ª Helena Coutinho descreveu as orientações fundamentais da política externa portuguesa, detalhando o aproveitamento máximo das vantagens que Portugal tem no referente à sua localização geográfica, história nacional e tradição diplomática, à língua portuguesa que é o elo de união de Portugal com o mar e o oceano. Essa dimensão ressalta a especificidade portuguesa enquanto combinação exclusiva entre experiência e atualidade, nesta exclusividade de Portugal consiste o seu contributo original à ordem internacional. S. Ex.ª a Embaixadora afirmou que tal especificidade assenta no facto de Portugal ser um país europeu que se situa no cruzamento entre as rotas que vão do Atlântico Norte ao Atlântico Sul ao encontro do mar Mediterrâneo, tendo contribuído esta sua posição para a capacidade de intermediação que Portugal possui.

Colocou-se em destaque a questão das comunidades portuguesas pelo mundo inteiro que contibuem para a dimensão universal da nação portuguesa na sua qualidade de nação autenticamente global, na medida em que revelam a força e o potencial que os portugueses sempre almejaram ir desenvolvendo.  A aborgadem positivista de Portugal para uma participação ativa no cenário mundial, a sua opção pelo multilateralismo e o seu compromisso com os valores universais em defesa dos direitos humanos, a paz e a solidariedade coletiva são aspetos adicionais que decididamente representam um destaque na política externa portuguesa, acabou por salientar a Embaixadora da República Portuguesa em Sófia.

Tomando em consideração a sua pertença à Europa e ao Atlântico Norte, Portugal tem o empenho de lançar pontes graças à sua história multissecular e à vontade renascente de perpetuar o seu percurso comum com África, América Latina e Ásia. E ao mesmo tempo, com vistas ao seu estatuto de Estado-Membro da UE, Portugal aspira desempenhar um papel importante no processo de adotar deliberações na Europa. Sem, naturalmente, esquecer outra dimensão substancial da presença do país no palco das relações internacionais, nomeadamente, o facto de ser membro da ONU e de várias organizações internacionais na área da defesa e da segurança, como também nas da cooperação, desenvolvimento e incentivo da proteção dos direitos humanos.

 

Outra dimensão significativa da política externa portuguesa diz respeito à construção da imagem de Portugal como um país democrático europeu, país de economia de mercado aberta que pretende continuar reforçando a aproximação social, as inovações e a igualdade. Considera-se de suma importância que Portugal apresente perante os parceiros a sua nova realidade de melhores condições económicas e sociais, o empenho de atingir um desenvolvimento sustentável na ciência, nas tecnologias, na revolução digital e nas energias renováveis, frisou S. Ex.ª a Embaixadora Helena Coutinho.

Com a exposição das prioridades fundamentais da política externa de Portugal, a Sr.ª Embaixadora não deixou de reafirmar que a seu país sempre manteve o seu compromisso com cada uma das etapas da consolidação da Europa unida, com o processo do seu alargamento que visa aproximar os países do continente europeu, resultando ser um forte estímulo para uma transição à democratização de muitos países. Hoje em dia, Portugal continua a cumprir com as suas obrigações europeias, desejoso de oferecer alternativas no que se refere ao rigor fiscal extremo numa perspetiva de aplicação mais sensível e moderada das regras fiscais.

O compromisso ativo do país com o contexto europeu levou-o à convicção de que se faz necessária uma aproximação entre os cidadãos europeus e as instituições da UE, afirmou S. Ex.ª a Embaixadora Helena Coutinho. É impossível menosprezar os claros indícios de distanciamento do espírito europeu que muitos cidadãos europeus sentem junto com uma desmotivação pelo nosso projero comum. A forma de reagir perante tal situação exige fortalecer as instituições e o marco legal para obter as ferramentas adequadas que nos permitam enfrentar os novos desafios na área da segurança, da defesa, da migração, da luta contra o terrorismo ou da cooperação pelo desenvolvimento.

Portugal considera que certas afinidades entre os Estados-Membros da UE, refletindo o variado mosaico que é a Europa, não deveriam permanecer consolidados em subdivisões estáveis a debilitarem a União. No nosso parecer, destacou S. Ex.ª a Embaixadora, a diversidade deveria contribuir para o consenso sobre os temas básicos de maneira que a edificação do projeto europeu consiga respeitar as diferenças, recrutando o esforço de todos, sem deixar em ninguém a sensação de se terem imposto certas políticas. A República Portuguesa tem estado sempre disponível para tomar parte na construção do consenso dentro do marco europeu em conformidade com o seu entendimento do projeto da UE como um projeto integrativo. Neste sentido, a posição portuguesa pode ser, em linhas gerais, descrita como compromisso ativo, respeito pela diversidade, esforço por lançar pontes e incentivar o consenso.

Outra prioridade da política externa portuguesa que o discurso da Sr.ª Embaixadora Helena Coutinho pôs em destaque foi o fortalecimento das relações atlânticas. Um tema que tem relação com os laços históricos do país com a região do Atlântico Norte e com a posição geoestratégica do arquipélago dos Açores. Sendo um dos países fundadores da NATO, Portugal desempenha um papel específico na organização devido à sua relação com o mar Mediterrâneo e o oceano Atlântico Sul. O país persevera em que o diálogo entre a Europa, a América e a África se mantenha ininterrupto, mostrando um entendimento das relações transatlânticas no contexto da construção de laços de interesse mútuo entre os seus territórios. O nosso contributo nesse aspeto, acrescentou a Sr.ª Embaixadora da República Portuguesa em Sófia, baseia-se na situação privilegiada de Portugal que coloca o país mesmo no cruzamento entre o Atlântico Norte, o Atlântico Sul e o Mediterrâneo.

 

Desenvolver a cooperação com os países lusófonos e consolidar as relações trilaterais entre Portugal, o Brasil e o Cone da África do Sul também destacam entre as prioridades da política externa portuguesa. Portugal compartilha com os outros 8 membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para além da língua, a convicção de que uma colaboração entre os países exige uma inclusão crescente da colaboração entre entidades da cidadania. A CPLP tem uma papel cada vez mais importante nas consultas políticas e diplomáticas, na divulgação da língua portuguesa como língua comum, como também na cooperação em várias esferas: justiça, forças armadas, educação, cultura e desporto, criando redes de ligação na área dos negócios e das organizações não-governamentais.

Outra dimensão importante da política externa portuguesa, sublinhada na conferência, é o incentivo à divulgação da língua portuguesa. Hoje em dia, a língua portuguesa é uma das mais importantes línguas globais, falada por mais do que 261 milhões de pessoas pelo mundo inteiro, devido ao qual representa para Portugal uma valiosa ferramenta capaz de construir pontes entre vários países, comunidades e regiões, para além de ser um excelente meio de comunicação, cooperação, troca comercial e cultural.

A seguir, S. Ex.ª a Embaixadora Helena Coutinho pôs em relevo a prioridade da política externa portuguesa ligada às comunidades portuguesas no estrangeiro e às formas de relacionamento com elas. A diáspora portuguesa compreende cerca de 4 milhões de pessoas em 178 países. Semelhante presença oferece a Portugal uma influência política considerável, junto com as possibilidades de criar redes de incentivos tanto para os investimentos e as relações comerciais, como para a divulgação da língua e cultura portuguesas.

 

A Sr.ª Embaixadora Helena Coutinho apresentou ao público como prioridade-chave para o seu país a internacionalização da economia portuguesa. O que supõe ampliar os horizontes e divulgar a economia portuguesa no estrangeiro, tarefa esta que exige um apoio para as sociedades comerciais portuguesas que pretendam aumentar a sua parcela de participação nos mercados estrangeiros, atraindo investimentos estrangeiros para Portugal. Nos últimos anos, os esforços neste sentido têm exercido um efeito positivo sobre o PIB português, provocando um aumento considerável da exportação que de 27% do PIB em 2007 cresceu até 43% do PIB em 2017. Igualmente, o país trabalha de forma ativa para estimular a internacionalização noutras áreas como são o ensino superior, as ciências e as tecnologias, atraindo investigadores estrangeiros, docentes e alunos para as instituições portuguesas, facilitando a integração destas entidades nas redes internacionais.

Finalmente, S. Ex.ª a Sr.ª Embaixadora Helena Coutinho colocou em destaque mais uma prioridade da política externa portuguesa que consiste em aprofundar a dimensão multilateral das relações internacionais do país. A diplomata portuguesa explicou que tal prioridade consiste no aproveitamento máximo das formas de participação no sistema da ONU, participação acentuada noutras organizações internacionais e usufruto mais eficaz dos níveis de utilidade que possa render a capacidade de Portugal de relacionar-se com os outros. Almejando contribuir ativamente para a consolidação do papel do multilateralismo enquanto condição indispensável para a ordem internacional baseada na legalidade e na concordância, acreditamos que a posição central da ONU precisa de ser reforçada e que Portugal pode dar o seu contributo específico em defesa da ordem internacional, acrescentou S. Ex.ª Helena Coutinho. Nós, os portugueses, somos bons mestres na arte de fazer pontes, somos intermediadores dedicados, somos partidários da atitude pacífica que evita a confrontação, somos parceiros fiáveis e estáveis, podendo acrescentar a estas qualidades ainda a facilidade de comunicar com culturas diferentes graças à nossa experiência histórica multissecular, acabou por concluir a Embaixadora da República Portuguesa em Sófia.

A Diretora do Centro de língua portuguesa «Camões – Sófia» deu uma lição aberta em «Alma Mater» – A universidade de Sófia Sv. Kliment Ohridski

Anaísa Gordino, Diretora do Centro de língua portuguesa «Camões – Sófia» junto da Embaixada de Portugal em Sófia, proferiu uma lição aberta intitulada «Políticas e atividades culturais do Instituto Camões – Instituto da cooperação e da língua Camões, I. P., jundo do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Portuguesa»

Dr.ª Anaísa Gordino fez uma visita à nossa Alma mater a convite da Prof.ª Dr.ª Madeleine Danova, Presidente da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas. A palestra decorreu no âmbito do Seminário Diplomático junto ao Programa de Mestrado em Relações Culturais e Geopolítica da União Europeia. O evento foi presenciado por estudantes e docentes do Mestrado acima referido e do Curso em Filologia Portuguesa desta Faculdade.

Focando o percurso do Instituto Camões e as políticas que tem vindo a desenvolver desde a sua fundação em 1992 até aos nossos dias,  Dr.ª Anaísa Gordino deu a conhecer a sua rica experiência na área da diplomacia cultural. Antes da sua designação para o cargo atual de Diretora do Centro de língua portuguesa «Camões – Sófia» e leitora de Língua e Cultura Portuguesa na Universidade de Sófia, Dr.ª Anaísa Gordino foi Diretora do Centro de língua portuguesa em Bruxelas e Leitora de português nas Universidades de Bruxelas, de Antuérpia, de Gante, de Botsuana, de Namíbia, como também na Universidade Central da Venezuela, para além de ter sido Conselheira em matéria de ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras jundo do Ministério das Finanças de Timor-Leste.

 

 

A lição aberta da Dr.ª Anaísa Gordino apresentou pormenorizadamente as três orientações básicas na atividade do Instituto Camões, I. P., nomeadamente, a cooperação e o apoio para o desenvolvimento, a política da língua portuguesa e a difusão da cultura portuguesa e das culturas dos países lusófonos.

No âmbito da cooperação e do apoio para o desenvolvimento, como também em conformidade com os objetivos para o desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 da ONU, a missão do Instituto Camões, I. P., dirigir-se-á aos países de língua oficial portuguesa, como igualmente, e também tendo em conta o papel da crescente integração regional, aos países limítrofes da respetiva zona geográfica na qual se inserem os países lusófonos. Os projetos desta área, como chegou a indicar a Dr.ª Anaísa Gordino, têm por objetivo erradicar a pobreza e garantir o desenvolvimento sustentável, afirmar a paz, a democracia, o estado de direito e a preservação dos direitos humanos.

Certas áreas de colaboração que o Instituto Camões, I. P., desenrola em conformidade com ditos objetivos de cooperação, abrangem a saúde pública, a agricultura e a proteção ambiental (nomeadamente, no que se refere à prevenção de riscos e à adaptação às alterações climáticas), as campanhas entre a população relacionadas com a proteção dos direitos humanos (inluídos os direitos das mulheres), também a qualificação profissional em áreas como a educação, a justiça, a economia, as comunicações, entre outras. O ensino da língua portuguesa é um dos aspetos em que convergem os objetivos da política linguística e os da cooperação, facilitando a incorporação de ambas as áreas na atividade de uma só instituição.

Na sua conferência, a Dr.ª Anaísa Gordino referiu pormenorizadamente os objetivos da política linguística do Instituto Camões, I. P., frisando que em conformidade com os objetivos da divulgação cultural estes mantêm o foco na afirmação do papel da língua portuguesa como língua global com vistas à sua vasta presença no mundo, seja como língua materna, seja como língua de herança, i.e. como língua da diáspora portuguesa, e cada vez mais como língua estrangeira. Com base nos dados apresentados pela leitora, a língua portuguesa neste momento é língua materna de 261 milhões de pessoas no mundo inteiro. É a terceira língua mais falada no mundo, sendo língua oficial de nove países distribuídos pelos cinco continentes ora em países independentes, ora em regiões autónomas de estatuto especial, ora entre as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo fora, em que o português é mesmo um pilar de união.

 

A Diretora do Centro de língua portuguesa «Camões – Sófia» sublinhou que o Instituto Camões, I. P.,  oferece o seu apoio ao ensino da língua portuguesa em todos os níveis dos sistemas educativos, dispondo de uma rede de ensino em mais do que 84 países, incluindo os estabelecimentos de ensino pré-escolar, primário e secundário, como também os leitorados de português em universidades e organizações internacionais. O fincapé no ensino superior é um traço característico da política do Instituto Camões, I. P., que matém relações de cooperação com mais do que 350 escolas superiores, visando a difusão dos estudos portugueses e do uso do português como língua de trabalho em diferentes áreas profissionais, englobando esferas que vão da educação aos negócios e do turismo às novas tecnologias.

Especial atenção a Dr.ª Anaías Gordino dedicou a uma das atividades do Instituto Camões, I. P.,  relacionada com a sua colaboração com universidades que desenvolvem investigação científica e têm renome no espaço internacional, mais especificamente, o apoio à investigação na área dos estudos portugueses e lusófonos e do ensino/aprendizagem da língua portuguesa que se chega a concretizar por meio das Cátedras Camões, atividade esta que contribui para a afirmação do português como língua da ciência.

No que tange à organização de atividades culturais, a leitora destacou o número crescente de eventos realizados com o apoio do Instituto Camões, I. P., sem deixar de pòr em destaque a diversidade dos projetos sustentados. O Instituto Camões, I. P., anualmente aprova centenas de iniciativas culturais em todas as áreas – desde a literatura à arquitetura, sem esquecer as artes visuais, o ballet, o teatro, a música, o cinema, nem o património cultural. O apoio à difusão da cultura é promovido através da rede dos centros de língua e cultura portuguesas que juntamente com as missões diplomáticas efetuam os programas de atividade cultural no estrangeiro. Subsidia-se a participação de artistas e a apresentação de obras de autores portugueses ou da CPLP em festivais, conferências, feiras do livro, ciclos artísticos e outros eventos culturais que se levam a cabo pelos países estrangeiros. Os objetivos deste apoio visam a inclusão da cultura portuguesa e lusófona na agenda dos eventos culturais dos países em que o Instituto Camões, I. P., tem presença.

 

Na sua palestra, a Diretora do Centro de língua portuguesa «Camões – Sófia» salientou que as atividades de difusão da língua e da cultura portuguesas que o Instituto Camões, I. P., promove na Bulgária ganham uma visibilidade e envergadura cada vez maiores. Um amplo leque de eventos culturais está a ser realizado nas maiores cidades do país, abrangendo diversas áreas que vão do cimena à literatura, da arquitetura à fotografia, passando pela música, tanto o fado, que é tão apreciado pelo público búlgaro, como pela música clássica e pela música dos países lusófonos, nomeadamente, o Brasil e Cabo Verde. A resposta positiva do público na Bulgária aos eventos culturais, efetuados pelo Instituto Camões, I. P., e o interesse crescente pela aprendizagem da língua portuguesa são uma prova do sucesso do Instituto Camões, I. P., que, no entanto, é também um resultado da boa cooperação com as entidades búlgaras e organizações parceiras, destacou a Dr.ª Anaísa Gordino nas suas palavras finais.

Ela sublinhou os êxitos na colaboração de longa data entre o Instituto Camões, I. P., e a Universidade de Sófia Sv. Kliment Ohridski na base da qual se realiza este ciclo de conferências dedicadas à política externa e, em especial, à política cultural de Portugal que se celebra no âmbito do Seminário Diplomático junto do Programa de Mestrado em Relações Culturais e Geopolítica da União Europeia na Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas.

O Presidente do Instituto Camões, I.P., proferiu uma conferência académica intitulada «Português: uma língua para o mundo».

Durante a sua visita na Universidade de Sófia Sv. Kliment Ohridski, o Embaixador Luís Faro Ramos, Presidente do Instituto Camões, I.P. – Instituto da Cooperação e da Língua junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, teve um encontro com os estudantes, os doutorandos e os docentes das Licenciaturas em Filologia Portuguesa e Estudos Africanos da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas em que proferiu a conferência académica com o título «Português: uma língua para o mundo».

À conferência assistiram S. Ex.ª Helena de Almeida Coutinho, Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República Portuguesa em Sófia, e Dr.ª Anaísa Gordino, Diretora do Centro de Língua e Cultura Portuguesa «Camões Sófia» e Leitora de Língua e Cultura Portuguesa na Universidade de Sófia.

 

O evento foi inaugurado pelas palavras da Prof.ª Dr.ª Yana Andreeva, Responsável pela Licenciatura em Filologia Portuguesa e Coordenadora do Módulo de África Lusófona na Licenciatura em Estudos Africanos, que destacou a importância do Protocolo de Cooperação assinado entre o Reitor da Universidade de Sófia e o Presidente do Instituto Camões, I. P. A professora catedrática afirmou que a instituição da Cátedra José Saramago e a sua inclusão na rede mundial de 50 cátedras do Instituto Camões, I. P., junto a instituições académicas de sumo prestígio, será um forte contributo para a internacionalização dos estudos portugueses e lusófonos na Bulgária e para a sua vigorosa colaboração futura com outras universidades distinguidas em que se faz ensino e investigação da língua portuguesa e das literaturas e culturas lusófonas.

 

Em nome dos corpos docentes das duas licenciaturas em que se ensina a língua portuguesa na Universidade de Sófia, a Prof.ª Dr.ª Yana Andreeva agardeceu ao Presidente do Instituto Camões, I. P., à Embaixada da República Portuguesa em Sófia e ao Centro de Língua e Cultura Portuguesas «Camões Sófia» por terem apoiado ativamente o processo e terem colaborado nas atividades que culminaram na constituição da Cátedra José Saramago na Universidade de Sófia.

 

 

Na sua conferência académica, o Embaixador Luís Faro Ramos apresentou a importância mundial da língua portuguesa que é a quarta língua mais difundida no mundo. O português é falado como língua oficial nos nove países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa: Portugal, o Brasil, Angola, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Timor-Leste, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe, como também em Macau.

„Uma língua para todo o mundo – é assim que se define a língua portuguesa por ser a quarta língua mais difundida em escala mundial. É língua oficial em todos os 9 países que são membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa e em Macau. A informação que se tinha há bem pouco tempo é que uma totalidade de 261 milhões de pessoas espalhadas em cinco continentes falava português, representando um 3,7% da população mundial, que, no entanto, deixou de ser atual porque o número dos lusofalantes no planeta vai crescendo exponencialmente, tendo atingido nos últimos meses do ano de 2019 cerca de 280 milhões de pessoas. Os países lusófonos ocupam uns 7,25% do território da Terra que segundo as previsões para o ano de 2050 se está à espera de que os falantes de língua portuguesa cheguem aos 380 milhões de pessoas», informou S. Ex.ª Luís Faro Ramos.  

 

Um facto interessantíssimo, que nas palavras do Sr. Embaixador revela a significativa projeção da língua portuguesa no espaço internacional, é o de ser a quinta língua mais falada na internet, sendo utilizada por 158 milhões de pessoas na rede. Os dados até 2017 indicam que o número de pessoas a comunicar em português na net tem vindo a crescer e está a ser superado apenas pela quantidade de pessoas que escrevem na rede em chinês, árabe, malaio e russo.

O Sr. Embaixador Faro Ramos dedicou especial atenção ao papel da língua portuguesa enquanto língua oficial de uma série de organizações mundiais, entre elas, a União Europeia, a UNESCO, a ONU, a União Africana, a Organização dos Estados Americanos, o Mercosul, etc.

Na sua conferência académica, S. Ex.ª o Embaixador deixou em destaque a atual política linguística do Instituto Camões, I. P., para o contexto internacional, cujos objetivos abrangem corroborar o apoio às instituições académicas onde a língua e a cultura portuguesas são estudadas, aos estabelecimentos de ensino primário e secundário em que a língua portuguesa é difundida enquanto língua materna, língua de herança ou língua estrangeira, ao fortalecimento dos laços na diplomacia cultural para além das outras áreas da política externa portuguesa, como também ao reforço da presença da língua e cultura portuguesas no espaço social do mundo.

O Presidente do Instituto Camões, I.P., frisou que a língua portuguesa é ensinada enquanto língua estrangeira em muitos países do mundo inteiro e uma das missões principais da instituição por ele liderada é precisamente o fomento do ensino de PLE. Igualmente, pôs em relevo que em 2018, o português era estudado em 77 países, aos quais, em 2019, se juntaram outros quatro, nomeadamente, Azerbaijão, Camarões, Cazaquistão e Gana. O interesse pela aprendizagem da língua portuguesa em estabelecimentos de ensino superior pelo mundo fora tem incrementado também nos últimos anos. Em 2016, os estudantes universitários que aprendiam a língua portuguesa fora de Portugal atingiram um número ligeiramente superior a 89 000 alunos, que este ano chegou a ultrapassar os 110 000 alunos. Igualmente, vai aumentando o número de docentes e de instituições de ensino, tanto na área dos estudos  superiores, como no sistema de ensino secundário, com as quais o Instituto Camões, I. P., tem estabelecido cooperação. Vai crescendo a quantidade de Centros da língua e cultura portuguesas do Instituto Camões, I. P., e das Cátedras Camões. E é com a instituição da Cátedra José Saramago na Universidade de Sófia que as Cátedras Camões no mundo inteiro completam exatamente o número de 50. „Queria compartilhar convosco que antes de chegar à Bulgária tive uma conversa com Pilar del Río, a viúva do escritor, para lhe comunicar a feliz nova de que uma nova Cátedra Camões ao nome de José Saramago estará a ser instituída em breve. Dessa forma, a obra do marido dela, que é até hoje em dia o único escritor de língua portuguesa a vencer o Prémio Nobel da Literatura, há de continuar a impactar os leitores através da gente dedicada à investigação da sua obra. Pilar mostrou-se extremamente contente», acrescentou S. Ex.ª Luís Faro Ramos.

 

E foi com enorme satisfação que o Presidente do Instituto Camões, I. P., sublinhou que em 2020, pela primeira vez, será homenageada a data 05 de maio, declarada pela UNESCO Dia Mundial da Língua Portuguesa.

Finalizado o discurso do Sr. Embaixador Faro Ramos, os alunos universitários tiveram o ensejo de fazer perguntas e compartilhar opiniões referentes ao ensino académico na Universidade de Sófia e em várias universidades portuguesas onde tiveram a oportunidade de permanecer por um ou dois semestres no âmbito das mobilidades de Erasmus+. Os estudantes e os doutorandos de Filologia Portuguesa chegaram a expressar o seu enorme contentamento do Programa Erasmus+ que lhes facilita não apenas a imersão no meio social da língua portuguesa que escolheram para os seus estudos, mas também a intensa troca intercultural à qual têm acesso e que é, nas palavras deles, a melhor maneira de conhecer Portugal.

Mesmo no final do encontro, o Sr. Embaixador Luís Faro Ramos agradeceu a todos os alunos e docentes o seu interesse pela língua portuguesa e pelas culturas de todos os nove países lusófonos do mundo, ressaltando que a Bulgária e a Universidade de Sófia são uma amostra exemplar de parceria e de alta qualidade do ensino na área dos estudos portugueses e lusófonos.

Estabelecimento da Cátedra de Investigação José Saramago do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua na Universidade de Sófia Sveti Kliment Ohridski

O Reitor da Universidade de Sófia Prof. Anastas Gerdjikov e o Embaixador Luís Faro Ramos, Presidente do Camões – Instituto de Cooperação e da Língua de Portugal, assinaram em novembro de 2019 o protocolo de cooperação para a criação da Cátedra de Investigação José Saramago na Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas.

As Cátedras do Instituto Camões funcionam como forma de cooperação interinstitucional entre o Camões, I.P. e universidades estrangeiras, prevendo o apoio à investigação no domínio dos Estudos Portugueses. A Cátedra José Saramago da Universidade de Sófia integrará a rede mundial de 50 cátedras Camões instituídas em prestigiados centros académicos de mais de 20 países, em que se desenvolvem o ensino e a investigação na área da língua, da literatura e da cultura portuguesa.

O protocolo de cooperação prevê o apoio institucional do Camões, I.P. e da Universidade de Sófia a projetos de investigação e formação na área do português, incluindo fóruns científicos, conferências e encontros com destacados académicos e personalidades da cultura portuguesa, seminários de formação especializados, concursos de tradução de literatura portuguesa, publicação de traduções e estudos e outros.

A assinatura do acordo contou com a presença da Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República Portuguesa em Sófia S.Ex.ª Sr.ª Elena de Almeida Coutinho, da Vice-Reitora da Universidade de Sófia Prof.ª Dr.ª Reneta Bozhankova, da Decana da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas Prof.ª Dr.ª Madeleine Danova, da Coordenadora da Filologia Portuguesa na FFCM Prof.ª Dr.ª Yana Andreeva e da Diretora do Centro de Língua e Cultura Portuguesa Camões – Sófia e Leitora de Língua e Cultura Portuguesa na Universidade de Sófia Dr.ª Anaísa Gordino.

Dias de Lusofonia na Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas da Universidade de Sófia

A Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas acolheu os tradicionais Dias da Lusofonia, que se realizaram online durante o mês de novembro de 2020. O ciclo de eventos foi organizado pela Filologia Portuguesa junto ao Departamento de Estudos Hispânicos e Lusófonos conjuntamente com a Cátedra de Investigação José Saramago, estabelecida em 2019 através de um protocolo de cooperação entre a Universidade de Sófia e o Camões – Instituto de Cooperação e da Língua de Portugal.

O programa dos Dias da Lusofonia incluiu conferências de três destacados investigadores das literaturas e culturas de língua portuguesa. A Prof.ª Dr.ª Isabel Pires de Lima, o Prof. Dr. Petar Petrov e o Prof. Dr. Istvan Rakoczi participaram nos Dias da Lusofonia com transmissões ao vivo do Porto, de Lisboa e Budapeste. As conferências, proferidas em salas virtuais, contaram com a presença de estudantes de licenciatura, mestrado e doutoramento e docentes do curso de Filologia Portuguesa da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas, estando também presente a diretora do Camões – Sófia, Centro de Língua e Cultura Portuguesa junto à Embaixada de Portugal em Sófia e leitora de Português na universidade Dr.ª Anaísa Gordino. A moderação dos eventos esteve a cargo da Prof.ª Dr.ª Yana Andreeva, Coordenadora da Filologia Portuguesa e da Cátedra José Saramago.

Na sua saudação aos conferencistas e participantes dos Dias da Lusofonia, a Decana da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas Prof.ª Dr.ª Madeleine Danova manifestou a sua satisfação pelo facto de que apesar dos desafios da situação pandémica atual na faculdade está a realizar-se mais uma edição anual deste fórum já tradicional que promove o intercâmbio científico e educacional. Agradeceu aos organizadores o empenho em manter a tradição de celebrar todos os anos os Dias da Lusofonia, para que os alunos da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas possam conhecer a riqueza e os avanços das culturas lusófonas.

A primeira conferência do programa dos Dias da Lusofonia foi proferida pela Prof.ª Dr.ª Isabel Pires de Lima, Professora Emérita da Universidade do Porto e Doutora Honoris Causa da Universidade de Sófia, e foi intitulada “A Queda de um Anjo – Queda ou Libertação?”. A Prof.ª Pires de Lima apresentou a obra narrativa de um dos ficcionistas mais importantes do mundo lusófono – o clássico português da época do Romantismo Camilo Castelo Branco. Concentrando-se em particular em “A Queda de um Anjo”, a Prof.ª Pires de Lima delineou as caraterísticas gerais da novela de Camilo e suas manifestações específicas no texto: um enredo complexo; ação construída linearmente; ritmo narrativo acelerado; representação concisa dos personagens, a fim de destacar os sentimentos obsessivos que os dominam; narrador interferindo em julgamentos irónicos ou emocionais; linguagem rica, combinando retórica sublime com discurso coloquial. Apresentando sua tese sobre o „romantismo realista“ ou „realismo romântico“ de Camilo, a Prof.ª Isabel Pires de Lima destacou as profundas contradições ideológicas do protagonista do romance, em cuja figura os pesquisadores da obra de Camilo encontram nítidos traços da personalidade do autor.

A evolução ideológica do personagem revela os traços opostos que fazem de Calisto Elói um homem entre duas épocas antagónicas, como o foi o próprio Camilo Castelo Branco, nas palavras de Isabel Pires de Lima. Essas oposições revelam-se entre a ética aristocrática conservadora subjacente à educação rígida do herói e a sua tentação de ceder aos apelos de Eros e ao luxo imposto pelas formas de entretenimento e pelos padrões de conforto material importadas do estrangeiro; entre o conhecimento erudito dos clássicos e o crescente interesse pela língua francesa, identificado com o novo modo de vida burguês; entre o uso do português clássico e até anacrónico e o subsequente fascínio por estrangeirismos; entre o desprezo pelo progresso e pela modernização da atrasada realidade portuguesa e o fascínio por todas as inovações da moda e da indústria estrangeiras; entre o conservadorismo político e as ideias do liberalismo; ainda entre o compromisso de tipo feudal com o Trono e o Altar e o estilo burguês e livre de vida social.

Depois de acompanhar os sentidos da metamorfose de Calisto Elói, na parte final de sua conferência a Prof.ª Pires de Lima formulou uma das hipóteses interpretativas possíveis, de que o anjo, desvinculado da realidade imaginária dos livros, tornou-se um jovem fortemente apegado à vida.  As ideias aprendidas, adotadas dos livros na leitura solitária, dão lugar à comunicação com o outro na vida real e esse é o caminho para a emancipação do ser humano.

O Prof. Dr. Istvan Rakoczi da Universidade Eotvos Lorand-ELTE em Budapeste proferiu a conferência “Continuidade dos parques – os painéis históricos de Françoise Shein como uma história interativa de Portugal e seus espaços ultramarinos“. Ele apresentou um breve panorama histórico das celebrações durante o século XX dos Grandes Descobrimentos Portugueses e a presença do tema dos Descobrimentos em alguns parques urbanos que são espaços emblemáticos da capital portuguesa. O Prof. Rakoczi examinou os sentidos da representação artística da empresa globalizante dos navegadores portugueses durante os séculos XV-XVI, presentes nos painéis decorativos de cerâmica da artista francesa Françoise Shein, que revestem as paredes da estação de metro Lisboa Parque, construída em 1959 e renovada em 1994.

Estabelecendo uma analogia com as ideias do filósofo português José Gil, o conferencista apresentou o espaço da estação de metro Parque como um espaço de reflexão e um espaço de transição, no qual decorrem os processos de síntese, desconstrução e construção da história. Como historiador da literatura, o Prof. Istvan Rakoczi destacou em primeiro lugar, entre as imagens presentes nos painéis de cerâmica, os títulos de textos clássicos dedicados aos descobrimentos portugueses e à expansão territorial do Império Português durante o Renascimento. A palestra abordou também as imagens de signos e símbolos cartográficos, religiões e culturas mundiais, bem como as diferentes representações de globos terrestres que testemunham as etapas da história da ciência cartográfica. Em conclusão, o Prof. Rakoczi enfatizou a natureza dinâmica e dialética desta “historiografia” em cerâmica, que segundo palavras da própria Françoise Shein tem por objetivo, através de projetos artísticos como esse, inscrever a Declaração Universal dos Direitos do Homem no espaço urbano e quotidiano de grandes cidades do mundo como Paris Bruxelas, Haifa, Lisboa e outras.

Na sua conferência “Trajetórias do Conto Brasileiro” o Prof. Dr. Petar Petrov do Centro de Literatura e Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa apresentou um panorama histórico do desenvolvimento do género na literatura brasileira. Brasil. Abordando alguns dos principais exemplos do género da segunda metade do século XIX até ao final do século XX, o Prof. Petrov examinou as obras de contistas brasileiros proeminentes de diferentes períodos histórico- literários e de diversas correntes estéticas.

Apresentando os contos “A Cartomante”, “Teoria do Medalhão” e “Missa do Galo”, do fundador do conto brasileiro contemporâneo, Machado de Assis,  o conferencista ilustrou as técnicas mais características do autor na construção dos mundos ficcionais das suas obras, nomeadamente a ação condensada e o enredo simplificado, que privilegia o acontecimento acidental apresentado como uma espécie de clímax na vida do protagonista. Os personagens de Machado são geralmente representantes da classe média do Rio de Janeiro, e a descrição de seu comportamento diário e da sua moral ilustra a crítica do autor à população urbana rica do Brasil Império. A palestra focou mais três figuras de escritores que protagonizaram a história do género no Brasil e a sua renovação durante a segunda metade do século XX.

Nos contos de Clarice Lispector evidencia-se o modelo da prosa psicológica sob a influência do existencialismo dos anos ’60. O enfoque no mundo íntimo das personagens, na maioria das vezes donas de casa da grande cidade, bem como a escrita assimétrica e fragmentada, enfatizando o detalhe e a dualidade, constroem a poética introspetiva e subjetivista de Lispector. O Prof. Petrov também abordou os contos regionalistas de Guimarães Rosa, destacando como seus temas caraterísticos a infância, as viagens e o crescimento, que se desdobram no cenário do sertão brasileiro, onde pastores, caçadores, pedreiros, ciganos, fugitivos da justiça, cegos, bandidos e assassinos vivem no mundo arcaico de muitos outros personagens também anónimos. Por meio da sua história mitopoética esses personagens de Rosa revelam a visão de mundo do brasileiro do interior do país e a imagem profunda do próprio Brasil.

Na parte final de sua palestra o Prof. Petar Petrov apresentou alguns textos de Ruben Fonseca, sublinhando que no estilo do hiper-realismo os contos do autor refletem a realidade repressiva e violenta durante a ditadura militar brasileira, mas também permitem a analogia com a realidade mais atual. Afetados pela alienação e pela violência, os personagens de Ruben Fonseca sufocam em seu ambiente urbano fechado, o que os condena à exclusão social e à marginalização. Seu confronto com esse ambiente provoca a violência tão caraterística das grandes cidades brasileiras e, ao mesmo tempo, expressa o extremo desamparo de personagens marginalizados diante de um sistema dominado por formas decadentes de cultura de massa e aguda injustiça social.

 

 

A Cátedra José Saramago da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas da Universidade de Sófia Sveti Kliment Ohridski associou-se à rede científica internacional JaRICCA

A Cátedra José Saramago da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas, criada em novembro de 2019 com o protocolo de cooperação entre o Camões Instituto da Cooperação e da Língua, Portugal, e a Universidade de Sófia Sveti Kliment Ohridski, associou-se, em fevereiro de 2021, à rede científica JaRICCA (Jangada – Rede Internacional de Cátedras, Centros de Investigação e Associações).

Constituída em Pontevedra, no dia 1 de dezembro de 2019, por ocasião das IV Jornadas Internacionais José Saramago da Universidade de Vigo, JaRICCA tem como fundadoras: I Cátedra Internacional José Saramago (Universidade de Vigo), Cátedra Libre José Saramago (Universidad Nacional de Córdoba), Cátedra José Saramago (Università degli Studi Roma Tre), Cátedra Extraordinária José Saramago (Universidade Nacional Autónoma de México), Cátedra José Saramago (Universitat Autónoma de Barcelona), ​​ Cátedra José Saramago (Universidad de Granada), assim como uma dezena de organizações científicas de renome em Portugal, França, Espanha, Brasil e Estados Unidos.

A rede JaRICCA tenta corresponder a três ideias centrais que podem ser deduzidas da obra e do pensamento saramaguiano: o trans-iberismo, a “Carta universal de deveres e obrigações dos seres humanos”, sugerida por José Saramago como complemento necessário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e a consciência de que as mudanças verdadeiramente importantes só se alcançam ao adotar posições extra-sistémicas, como assinala a Ata Fundacional da Jangada – Rede Inter- nacional de Cátedras, Centros de Investigação e Associações. Formulando como seu objetivo geral a criação de sinergias e projetos de colaboração no âmbito dos Estudos Lusófonos através da docência, investigação ou de atividades de extensão, a rede JaRICCA indica entre os seus objetivos específicos o desenvolvimento de projetos conjuntos de investigação com vista à transferência de conhecimentos no domínio dos estudos lusófonos; a organização e realização de atividades de divulgação como cursos de formação internacional, conferências, simpósios e seminários; o apoio a docentes, investigadores e estudantes; o intercâmbio de publicações académicas, de alunos, professores e investigadores, bem como outras atividades e projetos internacionais relacionados com o desenvolvimento e divulgação da investigação na área dos Estudos Lusófonos.

A associação da Cátedra José Saramago da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas à Jangada Rede Internacional de Cátedras, Centros de Investigação e Associações irá contribuir para uma maior visibilidade internacional da atividade de investigação dos docentes e doutorandos da Filologia Portuguesa e para o incremento das iniciativas internacionais de investigação, formação e divulgação cultural na área dos Estudos Portugueses e Lusófonos que se desenvolvem na Universidade de Sofia Sveti Kliment Ohridski.

 

Conferências da Prof.ª Dr.ª Fátima Marinho da Universidade do Porto durante os Dias da Lusofonia na Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas da Universidade de Sófia Sveti Kliment Ohridski

A Prof.ª Dr.ª Fátima Marinho da Universidade do Porto proferiu um ciclo de conferências no âmbito do intercâmbio académico Erasmus+. As conferências foram dedicadas ao romance histórico português e integraram-se no programa dos Dias da Lusofonia na Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas da Universidade de Sófia.

Fátima Marinho é Professora Catedrática, estudiosa da literatura portuguesa e em particular da narrativa histórica portuguesa de várias épocas, investigadora de méritos altamente reconhecidos pela comunidade científica internacional. Exerceu altos cargos académicos na Universidade do Porto: Vice-Reitora de Relações Internacionais e Cultura (2014-2018), Decana da Faculdade de Letras (2010-2014), sendo atualmente Diretora do Programa de Doutoramento em Literatura e Estudos Culturais. A Prof.ª Marinho foi professora visitante em universidades estrangeiras, é detentora de prémios nacionais e estrangeiros, autora de numerosas publicações científicas.

Como ponto de partida nas suas palestras em que abordou a maneira como o romance histórico português de diferentes épocas lê o passado nacional e mundial, a Prof.ª Marinho considerou a importância do passado para o homem medieval e renascentista, a partir das ideias de Peter Burke. Ela apresentou em detalhes o conceito de que a história é uma leitura de eventos passados ​​e presentes que são ideologicamente construídos à luz de interesses subjetivos ou públicos. A literatura também é uma construção, mas pela sua natureza ficcional inerente se distancia dos objetivos e intenções da ciência histórica. A Prof.ª Fátima Marinho examinou o contexto histórico e social específico do Romantismo em que se afirmam a popularidade e o significado do romance histórico. Ela enfatizou a mudança conceitual do género durante o século XX, já apontada pela pesquisadora Linda Hutcheon. Tal mudança expressa-se na nova forma de textualizar o passado por meio da metaficção historiográfica. As principais obras de John Fowles, Virginia Woolf, Marguerite Yoursenar e outros escritores, que são exemplos da atual leitura metaficcional da história, também foram objeto de análise aprofundada pela conferencista. A Prof.ª Marinho examinou em pormenor as últimas décadas do século passado para evidenciar a perspetiva crítica presente na ficção histórica de autores portugueses de destaque como José Saramago, Mário Cláudio, Agustina Bessa-Luís, António Lobo Antunes e Gonçalo M. Tavares. Foi traçado o paralelo entre a obra de Gonçalo M. Tavares Uma Viagem à Índia e a epopeia clássica de Luís Vaz de Camões Os Lusíadas, o que permitiu evidenciar as técnicas de desconstrução da metaficção contemporânea. Na parte conclusiva das conferências, a Prof.ª Fátima Marinho enfatizou as mensagens da metaficção historiográfica e destacou o fato de que conhecemos do passado apenas o que nos chegou por escrito, o que por sua vez nos permite afirmar que o cânone histórico e literário oficial hoje é muito instável.

Nas conferências da Prof.ª Fátima Marinho estiveram presentes estudantes dos três ciclos da Filologia Portuguesa, pós-doutorandos e docentes da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas.