A Prof.ª Dr.ª Fátima Marinho da Universidade do Porto proferiu um ciclo de conferências no âmbito do intercâmbio académico Erasmus+. As conferências foram dedicadas ao romance histórico português e integraram-se no programa dos Dias da Lusofonia na Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas da Universidade de Sófia.
Fátima Marinho é Professora Catedrática, estudiosa da literatura portuguesa e em particular da narrativa histórica portuguesa de várias épocas, investigadora de méritos altamente reconhecidos pela comunidade científica internacional. Exerceu altos cargos académicos na Universidade do Porto: Vice-Reitora de Relações Internacionais e Cultura (2014-2018), Decana da Faculdade de Letras (2010-2014), sendo atualmente Diretora do Programa de Doutoramento em Literatura e Estudos Culturais. A Prof.ª Marinho foi professora visitante em universidades estrangeiras, é detentora de prémios nacionais e estrangeiros, autora de numerosas publicações científicas.
Como ponto de partida nas suas palestras em que abordou a maneira como o romance histórico português de diferentes épocas lê o passado nacional e mundial, a Prof.ª Marinho considerou a importância do passado para o homem medieval e renascentista, a partir das ideias de Peter Burke. Ela apresentou em detalhes o conceito de que a história é uma leitura de eventos passados e presentes que são ideologicamente construídos à luz de interesses subjetivos ou públicos. A literatura também é uma construção, mas pela sua natureza ficcional inerente se distancia dos objetivos e intenções da ciência histórica. A Prof.ª Fátima Marinho examinou o contexto histórico e social específico do Romantismo em que se afirmam a popularidade e o significado do romance histórico. Ela enfatizou a mudança conceitual do género durante o século XX, já apontada pela pesquisadora Linda Hutcheon. Tal mudança expressa-se na nova forma de textualizar o passado por meio da metaficção historiográfica. As principais obras de John Fowles, Virginia Woolf, Marguerite Yoursenar e outros escritores, que são exemplos da atual leitura metaficcional da história, também foram objeto de análise aprofundada pela conferencista. A Prof.ª Marinho examinou em pormenor as últimas décadas do século passado para evidenciar a perspetiva crítica presente na ficção histórica de autores portugueses de destaque como José Saramago, Mário Cláudio, Agustina Bessa-Luís, António Lobo Antunes e Gonçalo M. Tavares. Foi traçado o paralelo entre a obra de Gonçalo M. Tavares Uma Viagem à Índia e a epopeia clássica de Luís Vaz de Camões Os Lusíadas, o que permitiu evidenciar as técnicas de desconstrução da metaficção contemporânea. Na parte conclusiva das conferências, a Prof.ª Fátima Marinho enfatizou as mensagens da metaficção historiográfica e destacou o fato de que conhecemos do passado apenas o que nos chegou por escrito, o que por sua vez nos permite afirmar que o cânone histórico e literário oficial hoje é muito instável.
Nas conferências da Prof.ª Fátima Marinho estiveram presentes estudantes dos três ciclos da Filologia Portuguesa, pós-doutorandos e docentes da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas.