No âmbito dos Dias da Lusofonia, formato científico, formativo e cultural que tem a tradição de edições anuais na Universidade de Sófia, estudantes, docentes e doutorandos da Filologia Portuguesa tiveram um encontro com o escritor português Afonso Cruz que esteve em Sófia por ocasião da Feira do Livro de Primavera. O encontro foi organizado pela Cátedra de Investigação „José Saramago“ na Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas com a amável colaboração do Centro de Língua e Cultura Portuguesa „Camões“ – Sófia.
A mediação foi realizada pela Prof.ª Dr.ª Yana Andreeva, Coordenadora da Filologia Portuguesa e da Cátedra de Investigação “José Saramago”, que apresentou a obra de Afonso Cruz, incidindo mais detalhadamente no romance recém-publicado na Bulgária, „Os livros que devoraram o meu pai“, e na tão esperada estreia em Portugal da mais recente obra do escritor „O vício dos livros“. Com mais de 30 obras, entre romances, contos, ensaios e livros de poesia, Afonso Cruz é um dos escritores portugueses mais produtivos e mais lidos da atualidade. Associado profissionalmente a vários campos criativos, como a literatura, a ilustração, o cinema e a música, Afonso Cruz tem se afirmado como um dos nomes de destaque da nova literatura portuguesa. Seus livros têm sido distinguidos com numerosos prémios literários, nacionais e internacionais, como o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, o Prémio da União Europeia para a Literatura, o Grande Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga da APE, o Prémio Fernando Namora, o Prémio Sociedade Portuguesa de Autores, entre outros. Para deleite do leitor búlgaro, alguns dos títulos de maior sucesso de Afonso Cruz já foram traduzidos na Bulgária: “A Boneca dе Kokoschka”, “Barafunda”, „Os livros que devoraram o meu pai“.
Fotografia: Paulo Sousa Coelho
Afonso Cruz falou do romance “Os livros que devoraram meu pai”, sua última obra traduzida para búlgaro, como um livro intrigante para quem lê e quem escreve. Referiu-se também a “O vício dos livros”, recentemente publicado em Portugal, que mistura histórias curiosas de escritores, fragmentos autobiográficos, memórias, reflexões, diálogos com leitores. O escritor respondeu a perguntas relacionadas com o seu processo criativo, sua paixão pelos livros e as leituras que moldaram sua visão do mundo. Sobre a sua última obra “O vício dos livros”, Afonso Cruz assinalou que se trata de um texto que se dedica à importância da leitura e às mudanças que esta pode trazer ao indivíduo e à sociedade em geral. Ele destacou que os livros mudaram sua vida desde a mais tenra infância e contou várias histórias que comprovam o impacto da leitura no destino de pessoas reais que conheceu quando estava reunindo materiais para seu trabalho. Em relação à sua experiência de leitor, o escritor disse que começou a ler por acaso quando era criança e, desde então, os livros têm sido uma parte muito importante de sua vida: „Quando comecei a ler, imediatamente me apaixonei pelos livros e desde então sou um leitor apaixonado.“ Afonso Cruz falou também sobre o grande impacto das histórias de aventura que despertaram seu desejo de viajar e explorar o mundo e acrescentou que quando abrimos um livro, abrimos o caminho para o futuro
No encontro com Afonso Cruz foi abordada a questão de que as histórias de seus livros se afastam muitas vezes do ambiente português para se referirem a uma realidade supranacional e cosmopolita. Foi debatida a questão se a identidade nacional está presente como tema na literatura atual, se o seu lugar é instável, numa cultura contemporânea cada vez mais internacionalizada e globalizada. Segundo Afonso Cruz, culturas e identidades nascem da combinação de muitos fatores – tanto coletivos quanto pessoais, e hoje temos muita liberdade para escolher nossa identidade, podemos criá-la nós mesmos. Quanto à sensação de se ter uma identidade única, original, Cruz partilhou o seu apego à região onde nasceu, às imagens que marcaram a sua infância e adolescência, bem como o seu interesse por uma das línguas que configuram a identidade cultural única de alguns portugueses, uma língua com raízes antigas, que remonta ao século XII, hoje preservada na região do Douro e conhecida como “mirandês”. No final da conversa, os estudantes e docentes da Filologia Portuguesa na Universidade de Sófia expressaram a esperança de um novo encontro com Afonso Cruz no lançamento do seu próximo livro em tradução búlgara.